Uma flor com "olhos de ressaca"
Cujas pálpebras - dizem - sentem o peso do mundo:
Todos os tons, desnecessárias dores e impetuosidade...
daqueles duros asfaltos.
Toda sensibilidade é uma flor
Flor com gosto de água e textura de vento
Daqueles de onde ecoam sempre o mesmo questionamento:
"Afinal, por que tantas folhas sem árvores?"
Toda sensibilidade é uma flor
Mas flor antissocial, cuja tortura não é outra senão as batidas do
lado de fora da janela.
Mas, vá lá... que é verdade: toda sensibilidade é uma flor
De tentáculos fortes e obstinados
Cujo sufocamento destrói vestígios de qualquer fantasia.
Todo pássaro, por sua vez, é um vetor
De sementes infecundas
Donde brotam verdades, uma das quais, em noites áridas teima em
sussurrar:
"Tolo és tu, que crê em maremotos, lembranças coloridas e risos
remotos! Quer que diga mais?"
Toda sensibilidade é também um condor
Que sobrevoa, orgulhoso, as nuvens
Mas despenha inevitavelmente!...
Enfim, toda sensibilidade é uma dor
Reconfortante e conformadora.
Porém, basta de controvérsias e terminações intangíveis!
Pois que a sensibilidade tem mesmo um princípio, mas cujas vaidades
não permitem nortear.
E assim, como era de se esperar, cá estou...
Valorizando o trivial
E ludibriando o que me seria (mesmo?) essencial.
Ora, pois... se toda sensibilidade é uma flor
Não é senão uma ou outra coisa...
Sobretudo, a insensibilidade que incessantemente temeu ser.
Quanto a isso, nada posso..
Nem mesmo há o que tecer.
Daysi, verão de 2014